Traumas, sexualidade e dissociação

Para falar de trauma e sexualidade, é preciso compreender antes de tudo que eventos traumáticos, especialmente na Infância, conduzem o Individuo a voltar todo o ódio não contra quem o traumatizou, mas contra si e contra o próprio corpo.

“O mundo do trauma que existe em cada um de nós difere, dependendo de nossa disposição Individual e de nossas experiências pessoals. (- há uma dinâmica que é comum a todos os que sofrem o trauma: primeiro, o sistema se torna extremamente sensível, segundo, desenvolvemos alguma forma de dissociação; terceiro, nossa identidade se entrelaça com a vergonha. Em consequência, não temos escolha a não ser vivenciar a nós mesmos e aos outros de forma distorcida”.

Daniela Sieff no livro “compreensão e cura do trauma emocional: conversações com clínicos e pesquisadores pioneiros.

Outra questão Importante é compreender que aqui falamos de violências físicas, sexuais e psicológicas e também de situações de negligência emocional nem sempre tão perceptíveis a olhares menos atentos. É na clínica que, muitas vezes, conseguimos ouvir na criança, no adolescente ou no adulto – a voz da criança maltratada, violentada, negligenciada.

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Conexões

Em tempos de afastamento social – isolamento ou quarentena, como você quiser chamar -, somos mais do que nunca convocados a buscar formas de conexão com o mundo, com as pessoas, com nós mesmos. Se antes conectar-se parecia algo a se fazer para daqui alguns dias – “que marquemos um café na próxima semana” -, hoje, muitos de nós sentimos falta do simples encontrar os pais, os filhos, os netos, os avós, os amigos, os namorados. Como num estranho apocalipse dos afetos, nos sentimos perdidos: além do medo da morte, já vivemos um luto da vida que vivíamos antes.

O luto machuca, dá raiva, dá vontade de gritar, faz chorar ou produz aquele silêncio inexplicável carregado de inquietude. E o que fazer com a inquietude do luto, a saudade de nós mesmos?

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Acolhendo a raiva

Lidar com os sentimentos é permitir-se ser inteiro, quebrado, múltiplo: é possibilitar que aquilo que adoece tome forma viva e a saúde se faça presente. Viver é experienciar uma infinidade de sentimentos. Desde pequenos. Às vezes, não sabemos nomear: eles se produzem no corpo, manifestam-se através de pensamentos que se repetem, insistem em acontecer. Nem sempre é preciso nomear. Mas é sempre importante aprender a reconhecer aquilo que nos toca. Aquilo que movimenta por dentro. Saudade, medo, amor, ternura, tristeza, amargura, ciúme, tédio, timidez, apego. E raiva. Hoje escolho falar sobre a raiva. Sentimento forte, intenso, mal falado, aquele sentimento que muitos de nós não gostamos de admitir.

Parto do princípio de que não há sentimento proibido. Todos são sentimentos e todos nós podemos experienciar qualquer um deles em  maior ou menor grau. Não há sentimento errado. Ruim é o sentimento mal direcionado. A raiva é um desses sentimentos considerados errados. Na ânsia de ser bons, não admitimos que podemos ser destrutivos. E o mais interessante disso é que, quanto menos admitimos, mais destrutivos nos tornamos. A raiva guardada dentro nos sufoca, nos machuca, faz com que nos voltemos contra nós – e contra o outro – com uma fúria avassaladora: junto dela vêm a culpa e o medo de não sermos tão bons quanto pensamos e queremos. Junto da raiva sufocada, vêm a angústia, a paralisia diante da vida, o pavor de que nos vejam como somos: humanos, simplesmente humanos. Continue lendo

Aquele SIM que você pode (e merece) dizer

A si mesmo.

Ouço em meus atendimentos uma queixa muito comum: a dificuldade de dizer não. A amiga vem pedir uma ajuda e, no momento, a pessoa não se encontra disposta: o não está agarrado na garganta mas a pessoa diz sim. E diz sim suprimindo o próprio desejo de, quem sabe, apenas descansar. A mãe exige presença em uma festa da família: porque, afinal, é uma festa da família. A pessoa diz sim. E se sente sufocada como se as horas na festa fossem maiores do que as horas comuns dos dias. O filho mais uma vez arruma aquele problema financeiro – ah, o mesmo de sempre – e a mãe desiste da própria viagem para suprir a demanda do não mais pequeno bebê. E a situação vai ficando pior. As pessoas exigem carona. Presença, conselho. Cabeça erguida quando você está está triste. Elas exigem, não pedem. Exigem que você ame como elas querem. Que você não se separe. Que você não ame alguém do mesmo sexo. Que você, sendo mãe, não saia para amar ou dançar. As pessoas exigem. Em nome de si mesmas, da sociedade, da religião. E não aceitam um “não”. Ficam magoadas, feridas, queixosas. Ficam desesperadas. Você de repente se torna um poço infindável de sim e sim e sim. E, enquanto isso, sua mente e seu corpo começam a não suportar mais. Continue lendo

“Os comprimidos não podem e não conseguem facilitar nossa volta à realidade. Eles só nos trazem de volta de cabeça, adernando e mais rápido do que às vezes podemos suportar. A psicoterapia é um santuário; um campo de batalha; um lugar em que estive psicótica, neurótica, enlevada, confusa e com uma esperança inacreditável. Mas sempre, foi ali que acreditei – ou aprendi a acreditar – que um dia talvez pudesse ser capaz de enfrentar isso.”

Kay Redfield Jamison, no livro “Uma Mente Inquieta”, relatando sua experiência de vivência e de tratamento do transtorno bipolar.

O tempo e a cura

O tempo é um senhor muito sábio. o grande mestre da cura. Ele nos faz atentar para o fato de que, no que se refere aos nossos modos se sentir e vivenciar a realidade, nem o “para sempre” nem o “nunca mais” podem ser pensados de forma rígida. Em constante movimento, a vida mostra que aquela dor não será eterna – assim como também não o será a alegria dos bons momentos. Continue lendo

Por que Fazer Terapia?

 

As razões para se buscar terapia são muitas, mas o principal é que haja vontade por parte do paciente. Vontade de pensar acerca de suas próprias questões e buscar transformações em sua vida. O espaço da terapia é um espaço para que o paciente exponha e trabalhe suas diversas questões e tenha, por parte do terapeuta, uma escuta qualificada e atenta. É nesse processo que as importantes transformações podem se dar, na medida em que o paciente, com auxílio do terapeuta, constrói novos caminhos para a sua vida.

A terapia é um trabalho de constante construção e desconstrução: é uma reconstrução da história pessoal e familiar e uma produção de novas histórias. Histórias que expandem a realidade individual e familiar, que tocam o fundo ao redor e produzem mudanças – por vezes discretas, outras vezes profundas. Aquele que busca fazer terapia pode estar passando por momento de intensa angústia, por alguma situação crítica na vida ou apenas buscando um espaço para elaborar melhor suas questões cotidianas. O importante é que ele encontre na terapia um bom espaço de fala, em que se sinta seguro para trazer o que tem de mais profundo.

Nada lhe posso dar que já não exista em você mesmo. Não posso abrir-lhe outro mundo de imagens, além daquele que há em sua própria alma. Nada lhe posso dar a não ser a oportunidade, o impulso, a chave. Eu o ajudarei a tornar visível o seu próprio mundo, e isso é tudo. Hermann Hesse