Meditação guiada: Indução à mudança

Série Relaxamento em casa - Episódio 03

Nesse terceiro áudio, trabalharemos modos de lidar com as mudanças difíceis no cotidiano e como produzir a partir delas transformações necessárias para a vida. Lidar com mudanças não é fácil, especialmente no período em que vivemos, mas apesar de o processo poder ser doloroso, o resultado final pode ser algo belo e especial. Que tal tentar?

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Relacionamento abusivo: o amor não é bom se doer

Ele não batia nela, mas costumava dizer que era o único no mundo capaz de suportar suas crises e manhas. Ela tomava antidepressivos e se identificava com o monstro da depressão, sem se dar conta de que o companheiro – que se dizia seu maior cuidador – era o maior algoz.

Ele não batia nela, mas criticava seu corpo. Dizia que se fosse mais magra, que se usasse calcinhas mais novas, que se cuidasse mais do corpo ele não precisaria procurar outras. Ele queria um relacionamento aberto. Só para ele.

Ele não batia nela, mas exigia que ela usasse as roupas que ele escolhia. Nada de saia curta, nada de maquiagem forte, nada de decote. Ele tinha um ciúme forte que chamava de amor. E, certa vez, ele segurou forte no pulso dela e gritou alto. Mas não, ele não batia nela. Continue lendo

Reconhecendo seus próprios limites

E então você sofre um acidente e precisa parar de trabalhar por um tempo. Ou então é a própria exaustão que lhe gera uma crise emocional e você demanda um afastamento de suas atividades. Mas você não quer parar. Você tem medo. Medo de perder o reconhecimento, o lugar, a potência. O medo da invalidez – temporária ou permanente – acompanha-nos como o medo da morte, mas não de maneira idêntica. Há quem diga, por exemplo, que não teme tanto a ideia de morrer, mas se angustia com a ideia de ficar dependente e dar trabalho aos outros. Aquilo que nos faz parar, “dar trabalho”, precisar de colo, depender de apoio às vezes parece insuportável. É uma ferida em nossa ideia de perfeição e de potência. É um reconhecimento – muitas vezes doloroso – dos limites da vida.

A doença, no corpo ou na alma, muitas vezes aparece como forma de mostrar o limite. As dores, as ansiedades, as depressões exigem pausas, mais longas ou mais curtas, e fazem com que precisemos pedir ajuda. Não apenas profissional, mas também de familiares e amigos. Nesses casos, aprendemos a formar redes e a reconhecer a importância dos laços. A parar aquilo que sempre nos pareceu natural de fazer e repousar o coração. Continue lendo

Finitude

De onde viemos? Para onde vamos? Qual será o derradeiro dia de nosso adeus? Como será quando perdermos quem amamos? Existe cura para o luto? Conseguimos nos esquecer daqueles que morreram? O que nos resta de quem partiu? O tema da morte nunca é brando. Sempre rodeado de afetos – muitas vezes tristeza, medo, angústia -, o reconhecimento de nossa finitude não é algo simples. Especialmente hoje, em que a ciência médica se desenvolveu de tal modo que pode prolongar a vida ao máximo através de medicamentos, tratamentos cada vez menos invasivos e tecnologias cada vez mais complexas. Afastamo-nos, pois, cada vez mais da morte. E, talvez por isso, ela acaba por se tornar cada vez mais assustadora.

Para tratar da finitude, de temas como a doença, a morte, a perda e o luto, recomendo um livro de extrema delicadeza: “A morte é um dia que vale a pena viver”, de Ana Claudia Quintana Arantes. A autora, médica geriatra e gerontologista, trabalha há anos com cuidados paliativos. Com doçura e simplicidade, convida-nos a pensar a morte a partir da própria vida. Ao falar de pacientes terminais, ela afirma: “O desafio de fazer uma pessoa se sentir viva não é negar o processo de morte dela. Então, se desejamos estar presentes, seja trabalhando, seja vivenciando a morte de uma pessoa que amamos muito, os primeiros desafios são estes: saber quem somos, o que estamos fazendo ali e como faremos para aquele processo seja o menos doloroso possível”. Continue lendo

Medo de dar certo

É quase natural pensarmos sobre o medo que sentimos das coisas que podem dar errado. De não se dar bem em uma prova ou de não passar naquela entrevista de emprego. De não conseguir um amor, de amar errado, de não sermos bons pais ou boas mães. De não termos sustento, sucesso, glória, visibilidade. De sofrermos um acidente, de adoecermos, de perdermos alguém querido, de morrermos. O medo da nossa própria morte e da morte daquilo que tanto desejamos é natural e conhecido. Sabemos dele. Reconhecemos. Trememos diante dele. E conseguimos falar dele.

Existe, porém, um outro medo, irmão gêmeo deste, que talvez nos seja difícil conhecer – ou reconhecer. É o aterrorizante medo de que as coisas possam dar certo. Você já se pegou travando diante de uma situação aparentemente boa? Já sentiu seu corpo tremendo quando tudo parecia um mar suave e calmo? Já teve a sensação de que de repente a alegria em excesso seria demais para você e que seria melhor parar por aí? Você já teve medo de seguir adiante em algum plano ou sonho? Continue lendo

Sua história importa

A história é o fio condutor da vida. Mas não é determinante. Ela não diz: “é assim que você será para sempre”. Ela explica: “É por isso que você hoje se apresenta desse modo”. Ela é feito raízes e sementes que fazem crescer caules e germinar flores. A história conduz aos frutos. E revela novos nascimentos e novas mortes em um mesmo fio de vida.

Sua história importa. Sua história de família e os arredores de seu bairro. Suas brincadeiras de infância, o seio que alimentou seu corpo. Todas as narrativas, lendas e todos os mistérios que alimentaram seu espírito. Todas as memórias que hoje dançam ao seu redor. A história é seu primeiro roer de unhas em uma situação de aflição. Ela também conta dos monstros – reais ou imaginários – que assombraram sua infância. A história carrega seus traumas e as estratégias que você criou para atravessá-los. Conta das vezes em que seu corpo foi ferido, tocado de forma imprópria, amaldiçoado. Fala também de sua alma deixada de lado, seus saberes não reconhecidos. Continue lendo

Produzir sentidos: um jeito de ser o que se é

É possível – e comum – nos dias atuais que sejamos tomados por um vazio de sentido. Ansiosos ou deprimidos, tomados pelo medo da perda de um emprego ou de alguém amado, sufocados por questões de trabalho ou financeiras, dominados por um tempo que não nos permite respiros ou mergulhados no nada do tempo sem desejo, perguntamo-nos: o que pode produzir sentido em nossas vidas? Talvez a resposta para isso esteja sempre em construção: ela está exatamente onde se para o pensamento e se dá início à ação – mesmo que a ação seja a produção de novos pensamentos, como quando começamos um curso diferentes ou produzimos um artigo.

Produzir sentidos é dar pequenos passos rumo ao que se é. Por isso, frequentemente vejo como é bonito quando alguém que há muito tempo não conseguia sair de casa acaba por marcar um café com uma amiga. Parece algo simples, mas é ação. Ação poderosa rumo ao que se é. Essa pessoa restabelece laços, mais do que com a amiga: ela os recria consigo mesma. Da mesma forma, iniciar uma dança, uma caminhada, um bailar rumo ao trabalho de outra forma: tudo isso pode produzir novos sentidos no trajeto. Escrever um poema, ouvir uma música, tocar um instrumento. Vestir-se de modo diferente – mesmo que sutil – e admirar-se no espelho. Continue lendo

Outubro Rosa: lidando com a vida

 

 

Campanhas de saúde mensais, com suas cores marcantes e seus dizeres fundamentais, são importantes para alertar sobre questões importantes na sociedade: discutir prevenção, cuidado, formas de auxílio profissional. No caso do Outubro Rosa, falamos da importância da detecção precoce do câncer de mama e da importância do cuidado à saúde de pessoas com câncer.

Prevenir e cuidar. Acolher e respeitar.

Como psicóloga, aproveito este mês para tratar de uma questão que considero fundamental: como lidar com a descoberta da doença e com o período de tratamento? Antes de trazer uma resposta pronta, já digo que é o sentimento de cada pessoa que dará conta do momento: não há uma verdade simples e definitiva. Receber o diagnóstico de um câncer é diferente para cada um. E lidar com o diagnóstico é lidar com a vida ou, de outro modo, com o novo que a vida traz. Continue lendo

Sobre o mês amarelo: prevenção ao suicídio

A você que pensa em partir, peço que respire. Mais uns segundos. Não é que a vida seja sempre seja bela. Também não são sempre doces os sonhos. Pensar em partir, sumir e morrer é algo possível a todos nós em algumas circunstâncias da existência: é humano. Toda a vida pulsa e às vezes pulsa em dor. Por isso é preciso que, diante desses pensamentos e sentimentos sobre morte, saibamos como pedir ajuda: como dizer em voz alta essa sensação que é tão humana como tantas outras sensações.

Por isso eu peço que respire. Fundo. Aqui comigo. 1, 2, 3. Pra dar tempo de conversar com o pensamento. Pra dar tempo de pensar um outro pensamento. Pegar o telefone e pedir ajuda. Abrir o seu caderno e rascunhar o abismo. Ontem era primavera. Houve um instante, não houve? Sempre há. Da sua beleza, da sua alegria, a sua abundância. Você em carne, sangu e talvez espírito. Não sei. Depende daquilo em que você acredita. Mas sabedoria, sim. Carne, osso e sabedoria. Eu sei, eu sei, a sabedoria pode machucar. Às vezes. Outras vezes é um alívio. Saber que amanhã pode ser diferente. Que existe a música. Que a comida tem aquele sabor especial: tempero verde. Chocolate.  Continue lendo

Acolhendo a raiva

Lidar com os sentimentos é permitir-se ser inteiro, quebrado, múltiplo: é possibilitar que aquilo que adoece tome forma viva e a saúde se faça presente. Viver é experienciar uma infinidade de sentimentos. Desde pequenos. Às vezes, não sabemos nomear: eles se produzem no corpo, manifestam-se através de pensamentos que se repetem, insistem em acontecer. Nem sempre é preciso nomear. Mas é sempre importante aprender a reconhecer aquilo que nos toca. Aquilo que movimenta por dentro. Saudade, medo, amor, ternura, tristeza, amargura, ciúme, tédio, timidez, apego. E raiva. Hoje escolho falar sobre a raiva. Sentimento forte, intenso, mal falado, aquele sentimento que muitos de nós não gostamos de admitir.

Parto do princípio de que não há sentimento proibido. Todos são sentimentos e todos nós podemos experienciar qualquer um deles em  maior ou menor grau. Não há sentimento errado. Ruim é o sentimento mal direcionado. A raiva é um desses sentimentos considerados errados. Na ânsia de ser bons, não admitimos que podemos ser destrutivos. E o mais interessante disso é que, quanto menos admitimos, mais destrutivos nos tornamos. A raiva guardada dentro nos sufoca, nos machuca, faz com que nos voltemos contra nós – e contra o outro – com uma fúria avassaladora: junto dela vêm a culpa e o medo de não sermos tão bons quanto pensamos e queremos. Junto da raiva sufocada, vêm a angústia, a paralisia diante da vida, o pavor de que nos vejam como somos: humanos, simplesmente humanos. Continue lendo