Relacionamento abusivo: o amor não é bom se doer

Ele não batia nela, mas costumava dizer que era o único no mundo capaz de suportar suas crises e manhas. Ela tomava antidepressivos e se identificava com o monstro da depressão, sem se dar conta de que o companheiro – que se dizia seu maior cuidador – era o maior algoz.

Ele não batia nela, mas criticava seu corpo. Dizia que se fosse mais magra, que se usasse calcinhas mais novas, que se cuidasse mais do corpo ele não precisaria procurar outras. Ele queria um relacionamento aberto. Só para ele.

Ele não batia nela, mas exigia que ela usasse as roupas que ele escolhia. Nada de saia curta, nada de maquiagem forte, nada de decote. Ele tinha um ciúme forte que chamava de amor. E, certa vez, ele segurou forte no pulso dela e gritou alto. Mas não, ele não batia nela. Continue lendo

Dia internacional da luta das mulheres

“Você pode me fuzilar com suas palavras, Você pode me inscrever na História
Com as mentiras amargas que contar,
Você pode me arrastar no pó
Mas ainda assim, como o pó, eu vou me levantar.
Minha elegância o perturba?
Por que você afunda no pesar?
Porque eu ando como se eu tivesse poços de petróleo
Jorrando em minha sala de estar.
Assim como lua e o sol,
Com a certeza das ondas do mar
Como se ergue a esperança
Ainda assim, vou me levantar
Você queria me ver abatida?
Cabeça baixa, olhar caído?
Ombros curvados com lágrimas
Com a alma a gritar enfraquecida?
Minha altivez o ofende?
Não leve isso tão a mal,
Porque eu rio como se eu tivesse
Minas de ouro no meu quintal.

Maya Angelou

Começo este texto trazendo um trecho de uma poesia de Maya Angelou intitulada “Ainda asssim eu me levanto” ( “Still I Rise”). Aproveito para trazer uma breve história dessa escritora que me cativou e que me foi apresentada por uma paciente querida. Maya Angelou é o pseudônimo de Margherite Ann Johnson, escritora negra nascida nos Estados Unidos em 04 de abril de 1928. Sensível e poderosa, Maya sofreu abuso sexual na infância, além de diversas outras dores – muitas advindas do racismo -, tudo isso relatado na maravilhosa obra autobiográfica “Eu sei por que o pássaro canta na gaiola”. Como um pássaro que nunca deixou de cantar, apesar dos aprisionamentos que lhe eram impostos, Maya lutou por direitos e nos traz uma esperança: é possível viver e seguir em frente, numa luta coletiva e feminina, uma luta que inclua mulheres negras, mulheres indígenas, mulheres lésbicas, bissexuais,  mulheres trans. Uma luta que inclua todas as mulheres. Continue lendo