Das vitórias sutis

Nem parecia grande coisa: ela conseguiu regar as plantas naquela manhã. Apreciou por instantes uma sutil alegria. E quis lixar as unhas.

Fazia tempo que ela mal se levantava da cama. Os filhos levavam o almoço e o jantar. O prazer era quando a neta vinha. Mas nem sempre. Às vezes, mesmo com a neta, mesmo com o almoço dos filhos, mesmo com o sol e o jardim, ela queria o quarto escuro.

Naquela manhã, no entanto, ela conseguiu regar as plantas. Dar vida o jardim. Uma espécie de cuidar de si mesma. Havia sol lá fora. E ela quis lixar as unhas. Continue lendo

“De como lidar com…” ou O cuidado com os processos de adoecimento emocional

Há uma variedade de mensagens e textos pelas redes sociais explicando “como lidar com alguém depressivo” ou “como lidar com alguém ansioso”. Com algumas dicas, muitas vezes em listas, todos esses textos fazem um importante apelo: “por favor, não julgue”! Reflito, pois, sobre o que vem acontecendo e o que vem produzindo a necessidade de mensagens assim. O quanto estamos julgando as pessoas pelos seus processos de adoecimento psíquico – ou mesmo períodos não patológicos de luto e tristeza – , como se a melhora dependesse unicamente de simples mudanças de hábito ou da vontade individual? Como se a melhora fosse e tivesse que ser rápida: “sei, sei que você está sofrendo, mas já faz muito tempo, não?” Quem determina o tempo? E qual o tempo de cada um? De tanto correr, o quanto nos atropelamos? De tanto correr, o quanto não olhamos para o outro?

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