O mito da mãe perfeita

Você provavelmente a conhece. Você talvez tenha algo dela. Essa cuidadora incansável, admirada pela generosidade sem fim e pela capacidade de resolver todos os problemas que aparecem. Ela mantém a casa limpa, organiza as despesas do lar e cuida das crianças, dos idosos e dos doentes da família. Oferece o ombro, os braços, a alma. E, de quebra, é inteligente e trabalha várias horas por dia. Busca crescimento profissional. E precisa ser bela. Cuida da alimentação – dela e dos outros – com um carinho incontestável. É exigido também que se exercite, não pelo prazer, mas pela forma. Raramente tem tempo para alegrias deliciosas e inúteis. E toda essa abnegação é continuamente elogiada por aqueles que a rodeiam. Chamam-na super mulher. Dizem que sem ela seria impossível viver. Prestam-lhe singelas homenagens no dia das mães e no dia da mulher. Compram-lhe flores, escrevem-lhe cartões e aguardam o almoço de domingo – feito por ela. Enaltecem-na. Como se fosse uma deusa. Como se fosse uma santa. Como se não fosse humana. E nem percebem – ou será que percebem? – que ela está encarcerada. Pela perfeição que lhe é atribuída a todo instante.

Você provavelmente a conhece. Você talvez tenha algo dela. Você não tem tempo para si e se esquece de seus sonhos. “Porque ser mãe é isso. Porque ser mulher é assim mesmo” – dizem aquelas vozes antigas que insistem em nós até hoje. Multitarefas, multitalentos, capaz de realizar infindáveis atividades ao mesmo tempo. Sem cansar. Sem sofrer. Sem desistir. Essa mulher que aos poucos você percebe que é impossível. Essa mãe que – você descobre na marra – nunca vai existir. No entanto, mesmo sabendo disso, você sente culpa por não ser ela. Culpa por aqueles dias em que sente uma preguiça danada do mundo. E morre de vontade de fazer nada. Ou de escapar em um final de semana. Deixar a louça suja exatamente onde está. Pedir socorro. Aprender algo novo por puro prazer. Ter tempo de ir ao médico para verificar aquele problema que você tem tentado ignorar.
Talvez você tenha vontade de gritar. E deseje não se perceber mãe 24 horas por dia. Você pode ter vontade de ser menina novamente e pular nas poças de lama após a chuva. Penso que às vezes deseja umas férias – sem data para retornar. Dormir até mais tarde. Tirar da gaveta aquele sonho há muito tempo guardado: Aprender a tocar um instrumento? Escrever um livro? Voltar a namorar?
Dançar, simplesmente dançar.
Minha cara amiga, eu recomendo que dance. Que deixe para amanhã ou depois aquilo não precisa tanto assim ser feito. Que possa até se esquecer às vezes do que precisa ser feito. Que passe pelo menos um dia sem dar satisfação. E eu sei que não é fácil. Eu sei que somos construídas assim e que, ora, há expectativas em torno de nós. Pesadíssimas. Suplicantes. Insistentes. Mas é que ser ela é impossível. Ser ela é matar você por dentro – pouco a pouco. Eu sei que ela recebe homenagens e é elogiada por ser tão digna. Mas sei também que um elogio besta não dá nem um milésio da satisfação de divertir-se sem culpa. Descansar por prazer. Errar por ser simplesmente humana. Eu sei que você tem vontade de gritar. Pois grite. Pois você é uma infinidade de desejos, projetos, talentos e sonhos. Você é aquela lágrima há muito guardada. Esperando o instante de trazer para fora toda a dor e toda a potência de ser.
Você é esse riso, essa força, esse frio na barriga: é muito mais que ela. Ela não existe.
Foto:  Famílias em Plaza Murillo, La Paz. Acervo Pessoal

3 thoughts on “O mito da mãe perfeita

  1. centros infantiles de torrejon de ardoz

    Me ha encantado vuestro post y me ha sabido a poco pero ya sabeis lo que dice el dicho “si lo bueno es breve es dos veces bueno”. Me gustara volver a leeros de nuevo.
    Saludos

  2. centro infantil torrejon de ardoz

    Esto es ¡sorprendente! No he leído algo como esto antes . Gratificante encontrar a alguien con algunas ideas nuevas sobre este tema. Este sitio web es algo que se necesita en Internet , alguien con un poco de originalidad. Un trabajo útil para traer algo nuevo a Internet. Gracias de todos lo que te leemos.

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