Das tramas da ansiedade

Não é o mesmo que estar preocupado com uma prova que ocorrerá no final de semana. Não é o mesmo que um friozinho na barriga antes de um acontecimento delicioso. Não é o mesmo que estar ansioso com algo específico e depois passar. É mais como se houvesse uma prova gigantesca a cada dia, a cada hora, a cada instante. As tramas da ansiedade colocam você em um estado de constante alerta. E o corpo fica também alerta. O peito aperta, as pernas tremem, a respiração falha. Às vezes ocorre uma crise de pânico, sensação das mais assustadoras. E você tem ânsia de viver mas parece estar sempre à beira de um abismo. E todos os pensamentos de todas as tragédias possíveis fazem sua mente agitar e seu coração saltitar. E então você não consegue explicar aos seus amigos o motivo de não conseguir ir à sessão de cinema marcada há dias. “É que hoje não dá”. – e seu coração aperta. E você não consegue explicar aos famíliares o porquê de precisar sair para tomar um ar no almoço de domingo. E você está suando mesmo estando frio. E você pede ao seu companheiro ou à sua companheira que lhe abrace e conte a respiração com você. E às vezes ele ou ela não entende. Talvez você já faça uso de medicações para ansiedade. É importante que, se o fizer, faça com acompanhamento médico. Talvez você já faça terapia. E esteja trabalhando isso.

Mas espero, acima de tudo, que você não faça da cura mais uma das pressas que acaba por impor a si mesmo. Pensar cada dia como um pedacinho de cura ajuda. Como se o cuidado viesse em gotas suaves de chuva fina. E, assim, você passou um dia sem preocupações. Ou algumas horas. Eu sei que algo pode ter acontecido com você. Algo que desencadeou o alerta. Há gatilhos poderosíssimos e a intensidade deles depende de cada organismo, de cada pessoa, de como você estava no momento do acontecimento. Você não é uma pessoa fraca. Como todas as dores do mundo, isso pode acontecer. Com qualquer pessoa. Pode acontecer por um motivo específico ou por um desencadear de situações aparentemente pequenas. Pela história de uma vida ou por uma correlação de acontecimentos. Acidente, desemprego, abusos diversos. Uma perda, uma situação de violência ou a própria cobrança dos dias.

Vivemos tempos ansiosos. Tempos de tensão. Medos se convertem em doenças. E doenças paralisam. E eu sei também que dizer que vivemos tempos assim não é algo que acalma você. Porque é no seu corpo que acontece. É no seu pensamento que a ansiedade trama. Mas eu digo dos tempos ansiosos para pedir que você respire e sabia que não está só. Que a sua fragilidade não é maior ou menor do que tudo o que é humano e pode adoecer. É o seu momento. Não é o seu para sempre. E o seu momento é este hoje em que você conseguiu realizar ou todas ou muitas ou uma tarefa sem ter crises.

Pensar cada dia como um pedacinho de cura. Fazer de cada respiro um gostar da vida. E reconhecer seus aliados e amigos. Aqueles que entenderão seus momentos, suas ausências, suas demandas por respiro. Reconhecer também que você pode e merece ter suporte profissional. Procure um psicólogo. Porque falar é fundamental. Falar ajuda a compreender que trama é essa que torna os dias tão árduos. Curar do ontem e do amanhã. Trabalhar o hoje. Às vezes fazer transformações intensas no hoje. Mas no seu tempo. Pensar cada instante como um pedacinho de cura.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

*