O coração acelera. Você sente um leve tremor. Vem um frio na barriga. O novo se aproxima. Instigante, incerto, misterioso. Medo e desejo se misturam. Tudo aperta. A vida aperta. E solta. A ânsia de viver provoca o corpo e atiça a mente. Tudo o que é novo produz movimento. E, por vezes, um pouco de dor. Um pouco de balanço. Um pouco de anseio. Um pouco de amor.
Imaginemos agora um outro cenário.
O coração acelera. Você treme. O corpo treme. As pernas, as mãos, por dentro e por fora. A vontade é de parar para sempre. Ou de sair correndo. Vem um frio na barriga. Uma secura na boca. O novo se aproxima. Ou o antigo parece se repetir: você sente que é a mesma dor de antes. Ou não sabe ao certo o que está por vir. Você apenas percebe seus pensamentos acelerados. Perturbados. A antecipação de uma tragédia. Sabe-se lá qual. Nem sempre se sabe do que é que se tem tanto medo. Instala-se a ansiedade.
Entre aquilo que faz o coração saltar pela boca e nos põe em alegre movimento de busca e aquilo que inquieta nossas pernas e nos paralisa a linha parece tênue. Ambos são movimentos do viver. Ambos falam da vida e de seus processos. Medos, anseios, vontades, memórias: o corpo e suas possibilidades. A ansiedade, no entanto, quando silencia possíveis, entra no campo do adoecimento.
Sei que dizer que você não está sozinho nisso não é necessariamente alentador: afinal, é no seu corpo e na sua mente que os movimentos paralisantes acontecem. Mas insisto: você não está só. E nem é fraco. Vivemos tempos apressados, tempos com poucos respiros, crises econômicas, dramas sociais, violência à espreita, assédios diversos, desemprego, pressões no trabalho, questões familiares e a própria aflição emocional que junta tudo isso e urge de dentro.
Excesso de fazer. E fazeres vazios. Você não está só: você está no mundo e no mundo os processos de adoecimento emocional tendem a acompanhar as tramas do tecido político e social. Você não é fraco.
Sei, sei que isso não é necessariamente alentador: é no seu corpo que acontece. É a sua mente que acelera e cala seus movimentos. Sustento, no entanto, que a vida tem possibilidades infinitas, mesmo nos cenários mais desoladores. E a possibilidade do cuidado está colocada. É possível buscar cuidado e suporte em meio ao turbilhão. O suporte profissional é de grande importância: a psicoterapia ou a análise permitem a elaboração das questões que produzem a ansiedade. Por vezes, os transtornos de ansiedade demandam acompanhamento psiquiátrico e tratamento medicamentoso.
O fundamental é buscar vias de respiro: maneiras de fazer furos em modos de vida que produzem paralisia. O apoio profissional, a fala, o grito, o movimento do corpo, a transformação da rotina. Trazer a saúde para o primeiro plano: você importa.
Busque cuidado. Permita que a ansiedade aflita perca espaço para a deliciosa ânsia de viver. Não se imponha um tempo de cura. Deixe que o cuidado seja tecido em seu próprio tempo. Existem muitos possíveis para além do horror de uma boca seca e uma garganta fechada de medo.
Imagem: Katie Joy Crawford
2 thoughts on “Da ânsia de viver e da ansiedade dos dias”