É Carnaval. Qual a sua fantasia? Ainda que você não caia na folia, vale a pena permitir-se a beleza das tantas máscaras que nos envolvem. Tendemos a demonizar as máscaras: costumamos dizer que “a máscara caiu” quando alguém revela de si algo desconhecido – uma faceta menos doce ou agradável. Mas não usamos máscaras o tempo inteiro? Não nos fantasiamos, afinal, dos inúmeros papéis que ocupamos na sociedade? As máscaras são nossas inúmeras peles. É preciso ser um pouco camaleão. É preciso ter um pouco de réptil e trocar de pele de vez em quando. Hoje, talvez, você queira ser bicho-preguiça e passar a tarde inteira na rede. Amanhã no mar. Se lhe foi oferecido tempo livre, você pode aproveitar as maravilhas do feriado sendo bruxa, fada, demônio ou guerreiro. Você pode dançar o Carnaval até tarde e se permitir um amor sem compromisso – sempre com o consentimento das partes e com camisinha, vale lembrar. Porque o autocuidado e o cuidado do outro cabem em qualquer fantasia.
É Carnaval. Mas depois não vai ser. Quais são as suas fantasias? Qual aquela que lhe cabe linda? Qual aquela que não lhe cabe mais? Será que a máscara de guerreira poderosa – que dá conta de tudo – não acaba fazendo mal à criança interna que pede carinho? Será que a fantasia de criança não oculta a potência de uma mulher crescida? De um homem capaz? Será que sua receptividade e docilidade não estão escondidas sob a máscara do macho? Que tal experimentar outras fantasias? Treinar outras vozes? Entrar em outros bailes?
É Carnaval. Mas depois não vai ser. E o garoto tímido pode querer entrar em uma aula de línguas. A bailarina delicada pode treinar lutas. E nocautear quem a quis ferir. O homem de 40 anos pode assumir seu amor por um outro homem sem medo dos horrores de uma sociedade que ainda celebra o ódio. A mãe dedicada pode tirar uns bons dias para si. E a avó pode soltar o seu primeiro palavrão de liberdade ao conseguir o divórcio.
É Carnaval. Mas depois não vai ser. E nem toda máscara é má. Nem toda fantasia é ruim. Há uma doce magia em viver e praticar o tornar-se a si mesmo. Que são muitos. Quantas almas habitam em você? Quantos possíveis? Sua doçura não é falsidade. Mas sua raiva é também real e você pode fazer uso dela. Não é que a tal máscara tenha caído. É porque somos diversas máscaras que se lançam do profundo de nós. A gente é todo o sentimento do mundo.
É sempre Carnaval dentro da gente.