A arte de contar histórias

A arte de contar histórias – histórias de fadas, bruxas, princesas e heróis – é de longuíssima data e tem ajudado os povos a lidar com seus monstros e com suas jornadas mais intensas. Lidar com a realidade nem sempre é fácil. Compreender as exigências do mundo real é útil para que possamos trabalhar, pagar as contas, cumprir as tarefas cotidiana. Mas a cultura é o que nos alimenta: é o que nos permite ser. Como diz Manoel de Barros:

Não aguento ser apenas
um sujeito que abre
portas, que puxa
válvulas, que olha o
relógio, que compra pão
às 6 da tarde, que vai
lá fora, que aponta lápis,
que vê a uva etc. etc.
Perdoai. Mas eu
preciso ser Outros.
Eu penso
renovar o homem
usando borboletas.

Reinventar a infância em nós a cada dia é nos permitir ser deveras humanos. É saber que desde pequenos a imaginação é nosso guia. Se perdemos a mão demais e caímos profundamente no mundo da imaginação, podemos ser tomados pela loucura – ou por uma infância eterna. Porém, se, por outro lado, erramos a mão e travamos os pés numa realidade árida, neurotizamos e também adoecemos. Então já não sabemos ser outros, já não sabemos desenhar ou cantar a nossa ansiedade e ela grita em nosso corpo. Ou a depressão nos derruba na cama. Por excesso de cobrança, definhamos de realidade. Sem o mágico, não reconhecemos os monstros e as bruxas e não sabemos como lutar com ou contra eles.

Façamos um exercício. Brinquemos de ser crianças de novo. Escolhamos nossa história favorita de infância. Aquela de nos dava mais medo ou a que tinha final mais feliz. Chapeuzinho Vermelho ou João e Maria. Cinderela ou Branca de Neve. Pequeno Polegar ou João e o Pé de Feijão. Peter Pan ou a A Bela e a Fera. O que devia ser enfrentado ali. Qual era a jornada do personagem principal? Qual a sua caminhada e sua luta? Havia monstros e bruxas? Príncipes e heróis? Princesas e fadas?

Faça consigo mesmo a arte de contar histórias. Talvez tenha um livro hoje, de literatura, que você esteja apreciando. Pare e leia. Deixe o que tem que ser feito e faça o que deseja. Uma revistinha, um livro, um rabisco. Escreva você uma história. Desenhe você uma história. A arte de contar histórias é de longuíssima data e tem ajudado os povos a lidar com seus monstros e suas jornadas mais intensas. Dê uma pausa em sua jornada para contar a si mesmo uma história. Ou quem sabe ao seu filho. Os livros de Harry Potter ou até mesmo a série Crepúsculo. Seja o que for. Abra espaço para ser outros. Renovar o homem usando borboletas.

Afinal, há sempre também os livros de poesia.

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