Quando um relacionamento amoroso chega ao fim, atravessa-se um processo de luto. É como se algo ou alguém muito importante houvesse morrido, ainda que a outra pessoa esteja viva. Sente-se falta do tempo preenchido pela presença, do fazer junto, dos planos construídos lado a lado. Sente-se falta do esperar chegar, do aguardar o próximo encontro e de todas as pequenas saudades que o relacionamento proporcionava no dia-a-dia. Sente-se saudade do que não aconteceu e, não raro, ainda que que o relacionamento tenha sido ruim ou mesmo abusivo, as lembranças boas colorem os pensamentos fazendo a dor ficar mais forte.
Acredito que é preciso sentir a dor. Como todo luto, é preciso atravessá-lo, chorá-lo, vivenciá-lo. Por vezes, ele se apresenta como uma montanha russa ou como ondulações, com altos e baixos de sentimentos e memórias – raiva, saudade, amor, ternura, tristeza. Todo fim é um luto. Mas é sempre importante pensar que o fim pode também ser um recomeço, especialmente no caso específico do fim de um relacionamento.
Aquele relacionamento que termina estava, em algum ponto, já ferido, desgastado, esgarçado. É possível, claro, haver voltas ou recomeços – isso acontece. Mas o mais importante de tudo é sempre recomeçar a partir de si mesmo e reconhecer-se novamente fora de um relacionamento amoroso. Quem você é? Quais os seus sonhos? Como preencher os espaços e como suportar os vazios? O enamorado tende a crer que o relacionamento o completa – como se ele, sozinho, fosse despedaçado. Ora, somos todos despedaçados, esburacados, cheios de vazios. O vazio faz parte de nós. E o outro não é capaz de nos preencher. O que acontece nas relações saudáveis é que o outro traz um acréscimo de luz que se soma à nossa, um acréscimo de força que se soma à nossa – e mesmo um acréscimo de dores que ajudam a curar as nossas. O outro é um a mais, não a completude. A sensação de ter pedido um pedaço é natural no processo de luto e é preciso ter espaço para senti-la. Mas é importante também reconhecer a força de ser quem se é.
Como você existe para além do amor que se foi? Quem são seus amigos e quais são suas outras paixões? Onde você brilha e se aquece? Onde você dói? Como você cuida de você? Pensar, refletir sobre isso, permitir-se debruçar sobre os sentimentos que nascem dessas perguntas. Permitir-se o luto e o seguir em frente. Se o relacionamento foi por demais abusivo ou se o luto está muito longo e árduo, buscar auxílio profissional é importante. Todos podemos atravessar perdas mais ou menos fáceis de lidar. Só nós podemos saber o peso e o tamanho delas. E o caminho sempre é o de autocuidado, amor próprio e redescoberta de si. Assim é possível se abrir para novas sensações, novas oportunidades e mesmo novos amores. A vida segue potente.