A história é o fio condutor da vida. Mas não é determinante. Ela não diz: “é assim que você será para sempre”. Ela explica: “É por isso que você hoje se apresenta desse modo”. Ela é feito raízes e sementes que fazem crescer caules e germinar flores. A história conduz aos frutos. E revela novos nascimentos e novas mortes em um mesmo fio de vida.
Sua história importa. Sua história de família e os arredores de seu bairro. Suas brincadeiras de infância, o seio que alimentou seu corpo. Todas as narrativas, lendas e todos os mistérios que alimentaram seu espírito. Todas as memórias que hoje dançam ao seu redor. A história é seu primeiro roer de unhas em uma situação de aflição. Ela também conta dos monstros – reais ou imaginários – que assombraram sua infância. A história carrega seus traumas e as estratégias que você criou para atravessá-los. Conta das vezes em que seu corpo foi ferido, tocado de forma imprópria, amaldiçoado. Fala também de sua alma deixada de lado, seus saberes não reconhecidos.
A história é a cor da sua pele e o modo como tratavam você. É o identificar ou não com o gênero designado ao nascer. É quando forçaram você várias vezes a ser onde não mais cabia. E a história é sua força. A história que você carrega em seu corpo, sua alma e seu coração é trauma, vida, tempestade, calmaria e fúria. Ela é uma mistura de todos os seus sentimentos e de todas as suas sensações. Ela é cada superação, cada intensidade, cada mão que lhe ofereceram, cada abraço que lhe deram.
A história é sua cultura, seu alimento diário, seus desenhos de infância, suas notas na borda de um caderno. A história é sua música favorita, o colo da sua avó e os contos que ela narrava. A história é potência e transformação. O fio condutor da vida. Revisitar a história é revisitar sua força. Reconhecer suas estratégias de vitória sem romantizar sua dor. É entender que você enfrenta a dor e que pode encontrar um caminho menos doloroso. Porque você já enfrentou antes e já soube rechear seu caminho com flores.
A sua história importa. Tortuosa ou não. Talvez carregada de angústias. Muitas vezes silenciosa e silenciada. Grite-a, pois dentro de si. Escreva-a, se possível, em cada passo. Ela é a sua vida. E a sua vida segue no fio da história. Escrita pelos arredores e também – principalmente – por você. Sua vida vale muito. Vale hoje. Agora! Tome a condução.