Dezembro

Chega dezembro, período de festas –  ainda que não haja festa em todas as partes, ainda que se vistam de sombras alguns lares. Chega dezembro. Tempo em que muitas e muitas pessoas repensam o ano, os erros e os acertos. E se propõem a renovações. Surgem então as listas de promessas de ano novo: ser mais saudável, encontrar um amor, perder peso, mudar de emprego, iniciar um novo curso, começar uma faculdade, juntar dinheiro. Corresponder a padrões preestabelecidos. Ou romper com todos os padrões do mundo. Viajar mais. Brigar menos. Ser mais feliz.

Chega dezembro, período de festas – ainda que não haja festa em todas as partes, ainda que se vistam de sombras alguns lares. E é porque não há festa em todas as partes e porque alguns lares se vestem de sombra que convido-os aqui a reflexões. O período de fartura para alguns é momento de fome para outros. O momento de renovação e promessas para uma pessoa é período de adeus e de luto para outra

Dezembro, como qualquer mês do ano, é permeado de doçuras e amarguras. Encontros e despedidas. Nascimentos e mortes. Mas o simbolismo contido no Ano Novo – o ponto da virada – pode nos ajudar a pensar nos ciclos. A vida que precede a morte que precede a nova vida. O encontro que precede o adeus que precede um reencontro. A semente que precede novos frutos e novas sementes.

O Ano Novo nada mais é do que a possibilidade (uma das muitas) de refletir sobre os ciclos. E sobre o que está ou não ao nosso alcance durante a caminhada. É sobre aceitação. E também sobre rebeldia. É quando se escreve na lista da virada: aceitarei que meu filho tem o direito de partir. É quando se rasga o papel para escrever: cortarei o laço com aqueles que me magoam.

Atenção redobrada, no entanto: o resultado da promessa pode não ser imediato. Convido  vocês a pensarem as promessas de Ano Novo como possibilidades em aberto. Estabelecer metas de modo a iniciar a abertura de um novo caminho. E saber que essas metas precisarão ser redesenhadas de tempos em tempos. Porque ciclos se fecham e se reiniciam. O ano todo. Às vezes em um mesmo mês. Às vezes em um mesmo dia. Talvez nos breves instantes em que você lê esse texto.

Prometa, mas sem a ânsia de cumprir. Tenha, antes, ânsia do primeiro passo. Deseje, mas sem o desespero da realização final. Sinta o sabor do próprio desejo adocicando a boca. Despeça-se, mas sem a pretensão de esquecer por completo. Admita que pontadas saudades na garganta fazem parte de amar e estar vivo. Faça suas festas como lhe for possível. E abstenha-se delas se assim desejar. Você pode festejar escutando o próprio coração, enquanto dança sozinho a dança dos loucos. Tudo é possível.

Um bom dezembro para você. Com as alegrias, as dores, as saudades, a luzes e as sombras que lhe couberem. E que você saiba acalentá-las com o amor que merecem.

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