Produzir sentidos: um jeito de ser o que se é

É possível – e comum – nos dias atuais que sejamos tomados por um vazio de sentido. Ansiosos ou deprimidos, tomados pelo medo da perda de um emprego ou de alguém amado, sufocados por questões de trabalho ou financeiras, dominados por um tempo que não nos permite respiros ou mergulhados no nada do tempo sem desejo, perguntamo-nos: o que pode produzir sentido em nossas vidas? Talvez a resposta para isso esteja sempre em construção: ela está exatamente onde se para o pensamento e se dá início à ação – mesmo que a ação seja a produção de novos pensamentos, como quando começamos um curso diferentes ou produzimos um artigo.

Produzir sentidos é dar pequenos passos rumo ao que se é. Por isso, frequentemente vejo como é bonito quando alguém que há muito tempo não conseguia sair de casa acaba por marcar um café com uma amiga. Parece algo simples, mas é ação. Ação poderosa rumo ao que se é. Essa pessoa restabelece laços, mais do que com a amiga: ela os recria consigo mesma. Da mesma forma, iniciar uma dança, uma caminhada, um bailar rumo ao trabalho de outra forma: tudo isso pode produzir novos sentidos no trajeto. Escrever um poema, ouvir uma música, tocar um instrumento. Vestir-se de modo diferente – mesmo que sutil – e admirar-se no espelho.

Ser o namorado ou a namorada de si. Dar pulinhos de alegria. Acreditar que hoje a sua ação valeu a pena. E amanhã você tenta novamente.

Sim, o momento presente é árduo. Também nos assustam o passado e o futuro. É árduo ler notícias e a vida nos abocanha perigosa. Os padrões estéticos espremem nossos corpos. Os padrões de saúde emocional sufocam nossos suspiros (seria proibido chorar?). Os padrões de saber, inteligência, grau de instrução, nível de produção: todos ferem nossos sentidos e nossos corações. Mas produzir sentido para a vida está para além da produção capitalista. Produzir sentido para a vida é compreender o nascer e o morrer das coisas.

“E se eu partisse amanhã?” – pergunte-se. Deixe-se levar pela pergunta. No início ela provoca medo. Depois, ela começa a acariciar com carinho. Não é que você vá morrer amanhã ou depois. Mas que sentido você deixa. Que encanto você produz? Antes de tudo, para você. De repente, você nota. Já está aí. Na sua arte – seja qual for. Na mesa de centro linda e arrumada. No seu cachorro. No brilho dos seus olhos em frente ao espelho. Nos seus amores.

Produzir sentidos é dar pequenos passos rumo ao que se é. Dê um hoje.

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