Maternar-se: a profunda arte de cuidar de si

Especialmente para as mulheres, socialmente ainda tão formadas para cuidar do outro e esquecer de si. Mas vale para qualquer pessoa que se sentir abandonando a si mesma e adoecendo deste abandono.

Há momentos e situações da vida em que você pode se sentir extremamente desconectada do seu corpo, de suas ideias, de suas potências e de seus saberes. Processos duros de adoecimento produzem isso.  Pode ser uma perda, uma situação de trauma causada por violência física ou moral, podem ser assédios sistemáticos e dores repetitivas. Você é forte, mas seu corpo sucumbe: então você faz um quadro depressivo, ansioso ou mesmo de sofrimentos psicossomáticos. Machuca. Profundamente.

Por isso, busco aqui falar do movimento de maternar-se: tornar-se mãe de si mesma. É certo – e fundamental – que uma rede de apoio ajuda muito. Mas o seu cuidado consigo é o primeiro passo para a busca de um cuidado maior. Inclusive para pedir ajuda. Maternar-se é saber-se forte o suficiente para fazer movimentos para se erguer: acolher-se nos próprios braços e fazer-se carícias emocionais. Dizer a si mesma doçuras – talvez daquelas que sua mãe ou figura semelhante já tenha dito – para se lembrar de quem você é: e você não é uma pessoa deprimida, ansiosa ou doente. Você é uma pessoa inteira que adoeceu. Porque a doença é parte da vida e a doença fala daquilo que já não estava sendo suportável.

O processo psicoterápico tem uma importante função nesse cuidado, na medida em que permite que você enxergue a si mesma a partir de outras perspectivas – suas, únicas, mas não mais repetitivas: é escutar inclusive o insuportável e reconhecê-lo como tal.

Maternar-se é escutar o insuportável e ajudar-se a construir um mundo com mais saúde. Ensinar-se a dizer o “não” que foi silenciado e aprender a gritar de raiva – e esse grito pode aparecer de diversas formas. Maternar-se é ser mulher e mãe de si mesma, não mais cuidadora de tudo e de todos: é reconhecer-se falha e, por ser falha, livre. Porque agora é permitido falhar, tropeçar, errar a mão.

Maternar-se é reconhecer a sua sexualidade, a sua beleza, a sua força e respeitar os momentos em que você fragiliza. É poder se deitar com cuidado para se levantar mais forte. É dizer que “hoje não dá, porque hoje é para mim”.

Maternar-se é um profundo, denso e intenso cuidado consigo. Iniciando o processo de cura a partir da percepção de sua própria importância. É desafiador. Mas começa com a libertação das culpas.

 

 

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